Em voz alta, ensaiei o teu nome:
a palavra partiu-se
Nem eco ínfimo neste quarto
quase oco de mobília
Quase um tempo de vida a dormir
a teu lado e o desapego é isto:
um eco ausente, uma ausência de nome
a repetir-se
saber que nunca mais: reduzida
a um canto desta cama larga,
o calor sufocante
Em vez: o meu pé esquerdo
cruzado em lado esquerdo
nesta cama
O teu nome num chão
nem de saudades
Ana Luísa Amaral
Leonor,
Muitas vezes eu quis mudar o calendário, ultrapassar as rotinas e te esquecer. Mas, todos os dias, nos rumores que a casa vazia faz – logo pela manhã – vem seu nome ecoando lembranças e saudades. Mentalmente, refaço os rituais e passos dos dias em que esteve aqui e dos dias em que se foi, deixando apenas a casa cheia de saudades.
Já te contei que mudei minha rota para não passar perto de onde seu olho se encantou pelas flores do ipê? E que mesmo não atravessando a alameda onde antes era um lixão, eu canto a canção que fala dessa saudade.
Devo confessar que já rasguei algumas cartas sem enviar e que rabisco seu nome em tudo que é lugar. E quando vejo as nuvens se enfeitando como se fossem bolas de algodão, eu recordo as manhãs que o céu do meu lugar te presenteou.
Para a gente, o olho buscava sempre a imagem que marcaria o momento – tão nosso – e se eu soubesse que você se afastaria de vez, não iria permitir tantas lembranças para memorizar agora. A gente sempre via coração em todo lugar e hoje, só vejo metade dele nas folhas, nas flores, no céu.
Como se até a natureza soubesse que sou essa metade insana dentro da saudade que sinto.
Acho que já me acostumei com sua ausência, Leonor… o que não me acostumei foi com essa saudade quando ouço as canções que falam de nós, dos poemas escritos como declarações de amor e com o vazio que ficou em mim.
Mariana Gouveia
Projeto fotográfico 6 on 6
Scenarium Livros Artesanais
Participam junto comigo desse projeto:
Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Suzana Martins – Roseli Pedroso
Ah Menina Mariana, que delicadeza! A tua saudade a suspirar momentos inesquecíveis. A paisagem enfeita a beleza da tua nostalgia.
Um encanto!! ❤
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Minha menina nuvem! Grata sempre ❤
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Fui e voltei das fotos e depois fui ler-te… me desconectei das imagens e fiquei com as rotas das linhas, como um diálogo feito a mesa, em que alguém me oferece chá e bolo e eu me lembro de C., dizendo para recusar com um sorriso e agradecer a gentileza.
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Grazie, bambina!
Ohhh, já te disse que pedi permissão a ela, né?
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Dolorosamente bonito, Mariana! Se saudade tivesse uma imagem, seria a última – eternamente renascida.
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Dizem que bom resgatar saudades…
abraço e grata ❤
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Me gusta mucho todo cuanto escribes, las macrofotografías de hoy son exquisitas. ¡Felicitaciones!
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Gracias, Volfredo! abrazo
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