Das palavras das cartas · Efeito borboleta · Mariana Gouveia

Carta para Esther aos cuidados de domingo

Esther querida,

domingo para mim é feito de silêncio – interno, eu diria – mas, se eu te dissesse que o quintal é um alvoroço só você iria rir, eu sei. Mas, eu consigo ouvir o bater das asas das borboletas ou as asas de Chiquinho chamando por mim.

Nos domingos, eu deixo de lado as agulhas, as linhas, as canetas e vou tirar as ervas daninhas dos vasos, dos canteiros e eu sei que tudo dói na flor que seca, mas é natural que seja assim.

Essa é a primeira das muitas cartas que quero te escrever, Esther e já vou dizendo que também sinto saudades de tudo que não vivemos, que não fizemos e das cartas que ainda não te escrevi. Mas, eu sinto que sua mão me chega nesses dias difíceis. Foi um afago saber que também sente saudades de mim… e daí, a gente fica pensando de onde, de quando e como… Você sabe que nem tudo tem respostas, né?

Mas é domingo, Esther e eu já deixei de ir na missa faz tempo. Houve um tempo em que as minhas manhãs eram dedicadas às orações… nunca mais fui desde o dia em que a igreja fechou as portas para mim, em um dia que precisei de amparo e nem era dia de missa. Depois disso, passei a orar no quintal, a usar desvios para chegar ao universo pleno. Passei a reverenciar o pleno das asas que pousam em minha mão, a ouvir os cantos do pássaros e a ficar em silêncio aos domingos.

Sabe, Esther, tem domingos que aqui é pura gritaria… tanto no interno de mim quanto no pé de ipê onde um casal de bem-te-vi fez um ninho. Isso para mim virou quase um santuário… também há os barulhos dos meninos da redondeza. Parece que todos vêm brincar na minha rua. Ás vezes, eu até gosto disso. Ouvir os gritos, a correria atrás de uma pipa, a bola batendo forte no muro e vez ou outra, o chamado do meu nome para devolvê-la quando cai no quintal.

Mas em outros domingos, eu quero silêncio de voz e de sons. Fico em reverência com as ervas ou um livro que me leva para viagens além de mim. Sei que você também deve ser assim. Talvez seja por isso que nossas saudades se unem em torno desse carinho de outrora e que não sabemos de quando. Como eu disse antes, tem coisas que não têm explicações. E nem precisamos delas. Basta sentirmos e pronto.

Por aqui, o barulho que ecoa são dos trovões que é um dos sons que me fascina, e já sei que em poucos minutos os pingos da chuva que se aproxima me tocará como se fosse uma melodia. O vento já traz os primeiros sinais em gotículas que fazem com que o petricor – o cheiro da chuva – exale em meu quintal e eu me despeço com um abraço carinhoso.

Mariana Gouveia

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É a época das chuvas no telhado

Fui ao baú desenterrar poemas. Chove a manhã toda e se estende para a tarde. Ouvi Gadu e sua voz a ecoar a palavra que era poema dentro da melodia. Ouço os barulhos da casa… os pingos da chuva no balde a guardar momentos e a luz chega pela janela… sou esse cotidiano que chove todo dia, e as flores bebem a água que cai. Ainda visto o pijama da noite, e o dia segue seu rumo de hábitos, manias e defeitos… O pássaro de todo dia pede abrigo na escada enquanto lá fora a vida acontece e eu sou um nome que habita dentro da solidão. Lavo o uniforme sujo e soletro o canto da ave que pousa perto de mim.

Vasculho os diários guardados e leio livros que estavam ali, parados, como a esperar para exalar histórias e à volta são as paredes e posso passar da sala para a cozinha enquanto os trovões ecoam e parecem dizer que aqui o universo tem um portal estranho. Revisito os casulos que se preparam no pé de orquídeas silvestres. Cuido para que eles não molhem. Sou essa metamorfose que cresce e muda a cada dia.
Desfolha em asas a borboleta que nasce. Está aqui e a sinto absolutamente indefesa diante dos dias. Da asa escorre o líquido da vida – é apenas um inseto… alguém diria – em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir uma coisa das outras coisas e ela está aqui, sendo pouso em minha mão e neste momento eu sei e sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz.
A vida segue líquida dentro do dia e prossegue nos gestos que faço apenas observando a chuva dentro da canção de Gadu.

Mariana Gouveia
Desvios para atravessar quintais
Diário das quatro Estações
Scenarium Livros Artesanais
O livro está a venda aqui

Efeito borboleta · Mariana Gouveia

Vácuo

Depois das perdas o corpo ganhou ares de memória. Seu nome apareceu nas lembranças e repeti o ritual de todo dia… Café, oração, café, busca, café, jardim, café, asas e só daí sigo o caminho rumo à rua de cima.

Enquanto atravesso a madrugada-quase manhã tento lembrar onde te perdi. Em que vácuo da vida você escapou?

Respiro enquanto corro para alcançar o ônibus e as lembranças ficam nas asas do quintal e na singeleza da rua de cima.

Depois das perdas, as lembranças se tornam apenas lembranças… Afinal, o dia é feito para viver.

Mariana Gouveia

Das palavras das cartas · Efeito borboleta · Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais

Aos cuidados do meio-dia…

Ph: Ziqian Liu

Helena,

Eu deveria te escrever com meu vestido de poás laranja e assim, atravessar esse oceano e te contar coisas do meu quintal. O sol do meio-dia se impõe e hoje, parece mais quente que os dias normais. O vestido dá lugar para o conjunto de short e camiseta e nem vou te falar sobre poás.

Ou talvez vá… a borboleta laranja que voa aqui, parece ter poás nas asas – claro que isso é imaginação minha – e veio essa semana toda. Lembrei-me de um poema de Graça Carpes: “Tenho o tempo das borboletas. Uma semana, é uma vida” e eu fico pensando se é a mesma que veio todos esses dias ou se a semana dela já passou.

Não sei se te contei sobre o vento morno daqui e se na densidade das horas a vida é igual para você. O calendário parece acelerado. Foi ainda a pouco que retirei a folhinha de ontem e o hoje já é quase amanhã. Será que passaremos a ter o tempo das borboletas? Amanhã já é dezembro, Helena! E daqui a pouco, já estarei escrevendo para o novo ano.

O dia ganha contornos laranjas no meu quintal e leio sobre pássaros em poemas que não escrevi enquanto meu pássaro de todo dia vagueia por aqui. Ele se coça e uma peninha se solta. Isso me dá uma ternura imensa. Lembro de você e do seu sorriso quando te conto histórias sobre ele.

Sabe, Helena, os meninos da rua de cima já correm atrás de pipas. Os cães latem enquanto um dos meninos tenta roubar a pipa do outro. Já fiz muitas pipas para eles em outros tempos. Até hoje, há um esqueleto de uma que fiz presa no fio de alta tensão.

As sombras já contornam o pé de ipê e já invade minha janela. Alguns raios do sol atravessam as telhas e formam uma luz difusa na minha cozinha. A vida tem essas coisas mínimas no dia da gente. Um voo de borboleta, um pouso de pássaro, uma nuvem em forma de coração, uma folha que cai e às vezes, nem reparamos nos instantes de ternura. Você tem reparado nas ternuras daí, Helena?

Um beijo meu,

Mariana Gouveia
Projeto Blogvember – Scenarium Livros Artesanais
Participam juntos comigo: Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Roseli Pedroso e Suzana Martins

Das palavras das cartas · Efeito borboleta · Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais

Confesso não percebi o momento de nossas mãos algemadas

Tentei me separar enquanto você me levava
e me divirto agora que não podemos nos separar
um do outro
Adriana Aneli

Amor,

quando li o poema do tema de hoje pensei em você e de nossas rotas nessa avenida louca da vida. De como nossas mãos se encaixaram nos momentos de dores. Lembro-me de você ter dito, em uma noite dessas em que a dor era maior do que minha vontade de lutar: segurar a mão na hora da poesia é fácil. quero ver é nessa hora, se as nossas cumprem o requisito de nos fortalecerem.

Naquela noite, você simulou colocar um par de algemas em nós e desde então, não podemos nos separar. A gente ultrapassou e ultrapassa várias coisas alheias a nossa vontade. A gente já riu tanto juntos e já choramos também.

Já estivemos quietos, já gritamos ao vento e não foram poucas as vezes em que me acompanhou nas viagens doidas de meu espírito liberto. Você sempre foi o sublime ali, à espreita de mim. A me guiar, me proteger. Você é o companheiro das conversas longas, dos risos fáceis e a mão que coça as costas. Do abraço que encaixa e da vontade louca de falar de jogo.

Sabe, amor, você é o que abre as portas, que apaga as luzes, que tira o cílio quase caindo no olho e o que me enxerga poesia mesmo sem entender dela. É o meu canto de espera, meu riso de chegada e é o que me encoraja mesmo quando odeia me esperar. Você enxerga o encanto antes dele acontecer e hoje, mais do que todos os outros dias eu precisava te dizer isso.

Dizer que te amo é saber que isso não te livra do turno da noite quando o amparo briga com seu sono, nem quando minha ansiedade briga com suas piadas. Às vezes, sou só monólogo… mas quando te olho, você está ali, sorvendo minhas palavras como se bebesse um cálice. E quando a magia dos pousos é encanto demais para mim, você faz valer as algemas e vibra comigo o instante.

Grata imensamente por me amar!

Mariana Gouveia
Projeto Blogvember – Scenarium Livros Artesanais
Participam juntos comigo: Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Roseli Pedroso e Suzana Martins

Das palavras das cartas · Efeito borboleta · infinitamente · Mariana Gouveia

 Um dia destes. Dizem que é quando menos se espera.

Mãe,

foi no dia de hoje, há 40 anos atrás que a gente conversou pela última vez. Ainda me lembro das frases do diálogo e como aquela noite era um prenúncio de sua partida.

Dizem que o universo sempre nos envia recados, mas eu era menina ainda, e só sabia ler poesias e não entendia nada de sexto sentido. Ou até entendia. Mas, não queria saber.

Sabia que isso podia acontecer em qualquer dia. Um dia destes que a gente quer rasgar do calendário. Dizem que é quando a gente menos espera. Em uma noite, estávamos falando de lua, estrelas e mariposas e no outro, você já era estrela.

Naquela noite a gente ouviu Tristesse que era tema da novela Sétimo Sentido – que passava na época e você amava – em uma radiola antiga. A calçada alta fazia a rua parecer distante e falamos de sonhos – os meus – e de como você se orgulhou ao ouvir minha estreia no rádio. Eu, uma menina ainda nos meus quase 16 anos estreava um programa de rádio. Era seu maior sonho me ouvir através das ondas do rádio. Falamos dos meus irmãos… e você dizia como eu deveria cuidar de cada um. Falamos de silêncio, de como as palavras nos moldam, nos podam e de como eu deveria dizer no rádio para atingir os corações de quem me escutar.

Depois, veio a mariposa enorme e pousou em minhas mãos e você falou sobre acolhimentos, superação e coragem. No outro dia, eu era puro medo. Medo de seguir sem sua orientação. Medo de me perder nas escolhas e medo da sua falta.

As coisas nunca mais foram as mesmas, mãe… As coisas mudaram e mudam o tempo todo e de vez em quando a coragem me falta nesses vãos da vida. Mas, eu sigo firme aqui… e repito várias vezes as frases que dissemos naquela última noite sua nessa vida.

Você deixou poucas fotos e a gente quase nem tem registros de momentos juntas. A foto que ilustra essa carta tem você e seu vestido florido, em preto e branco – o primeiro, depois de um luto quase eterno desde a morte do meu avô – mas que me lembro das cores lilases das flores e que já costurei vários iguais, só para te sentir mais perto.

Sabe, mãe… eu agora crio histórias, e o rádio ficou apenas nas lembranças. Mas, eu vivi muitos anos dele. E conquistei pessoas que até hoje rondam minha vida. Você não ia acreditar que hoje, através da internet uma rádio pode ser ouvida em qualquer canto do mundo. As coisas não são mais as mesmas. Tantas coisas você deixou de viver e sentir.

Mas, sabe, mãe… de uma coisa você estava certa. As minhas mãos se tornaram pouso para muitas coisas. Aves, pessoas, insetos, borboletas… tudo que você pensar, pousam em minhas mãos. Basta tê-las estendidas.

Eu ainda deixo as portas abertas para o vento entrar. Eu ainda assovio para chamar o vento… eu ainda olho para o céu buscando imagens em nuvens e eu ainda falo com você em voz alta, como se estivesse aqui, por que sei que de alguma forma você sempre estará… e eu ainda sigo os ensinamentos seus para ser uma pessoa melhor.

Te amo infinitamente!
Mariana Gouveia

Das palavras das cartas · Efeito borboleta · Lunna Guedes · Missivas de primavera · Scenarium Livros Artesanais

Experimenta a suave melancolia de uma manhã feliz.

Um dia feliz
Às vezes é muito raro
Falar é complicado
Quero uma canção
Fácil, extremamente fácil
Pra você, e eu e todo mundo cantar junto

Jota Quest

Roseli querida,

Reparei que nunca te escrevi uma carta e aproveitei esse domingo estranho – amanheceu frio aqui – para te levar pela mão no meu quintal. Queria te mostrar os ritmos das borboletas por aqui… Já faz tempo que percebi as lagartas no pé de cleome e de como rapidamente foram devorando as folhas. Eu plantei essa espécie, justamente para elas…

Depois de alguns dias, ao invés das lagartas, foram os casulos que se formaram… eu acho pura magia essa transformação, Roseli… e mesmo que eu já tenha visto várias vezes esse processo, é sempre como se fosse a primeira vez e a cada vez me emociono, então, se meu olho lacrimejar, não repare, viu?

Domingo amanhece aqui com uma tonalidade de azul tão linda que acho um pecado assistir sozinha esse céu… assim como sinto uma dó enorme alguém não presenciar as borboletas nascerem. Já te contei que elas nascem pela manhã? algumas espécies demoram cerca de uma semana para eclodirem o casulo e ganhar voos nos desvios do meu quintal.

Algumas, como se precisassem de amparo, buscam minhas mãos, mas isso, é só até as asas ficarem firmes e elas vão para as flores, plantadas para ela e para o Chiquinho.

Eu diria que minha casa é habitada por elas… assim como pelas suculentas, os cambacicas – que brigam com Chiquinho pelo bebedouro – e por essas manhãs melancólicas, mas felizes… quer experimentar comigo elas?

O chá – ou café – pode ser escolhido pelas ervas frescas, quase ao toque de mão através das janelas… assim como a geleia de jabuticaba, ou de menta – que eu aprendi a fazer recentemente – com pimenta. Mas, se você preferir o café, eu ainda o faço da maneira antiga, no coador de pano, torrado e moído pelo meu pai, vindo lá do lugar onde ele mora… e só não vou te dizer que ele plantou, porque a força dele já não dá mais para isso.

Sabe, Roseli, te mostrar meu canto, mesmo que em fotografias e palavras me faz sentir nostalgia sobre a época dos encontros…

Eu sempre fui de casa cheia, de risos largos, de manhãs de domingos com a cozinha em polvorosa na preparação da macarronada com queijo, da carne assada e maionese. Mas, o tempo foi levando os irmãos para longe, e hoje, nessa manhã atípica – mas feliz e tranquila – te agradeço pela companhia. Que as borboletas tenham adoçado seu dia e que setembro nos envolva em seus dias na proximidade do carinho.

Abraço carinhoso,
Mariana Gouveia
Missivas de Setembro
Scenarium Livros Artesanais

Estão junto comigo nesse projeto
Lunna Guedes Obdúlio Nunes OrtegaRoseli Pedroso e Suzana Martins

Diário das quatro estações · Efeito borboleta · Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais

Preciso sobreviver ao encanto…

que teus olhos me apresentam em miudezas e rotinas.
Dou-te os sentidos plenos no toque das palavras,
invento recantos onde seu amor me ampara
Para isso, basta sentir-me tua.
Adivinho que você nasceu em algum canto do mundo. E os séculos nos pertencem.

Mariana Gouveia|
In: Cadeados Abertos – Diário das Quatro Estações – Scenarium Plural – Livros Artesanais, p. 93 |
*Imagem: Laura Makabresku

Das rotinas · do verbo voar · Efeito borboleta · infinitamente · Mariana Gouveia

eu era um quase… uma parte

Foi no dia que te bordei
que a arte fez-se em mim

os pontos – quase toque – cerzidos com a linha de cetim

sua pele – tão alva – ponto cheio

tecendo flores em cada respiro
voos de borboletas
– feito asas –
a linha se desgrudou da agulha e uniu-se a mim

um nó feito
– na véspera do voo –
eu era pouso em ti.

Mariana Gouveia
Agosto é o mês da arte e de Beda.
Participam junto comigo:
Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega  – Mãe Literatura – 
Suzana Martins – Roseli Pedroso
arte: José de La Barra 

azul em qualquer céu. · Divã · dos diários · Efeito borboleta

Quero mudar. De mim.

De vez em quando eu a procuro no meu quintal.
E te vejo nos instantes que vivi ali.
A solidão esmagadora e essa maldita espera e minha mão transgressora que toca lembranças que quero esquecer. Até mudo as coisas de lugar.

Coloco a horta onde o vento bate e onde eu abria os braços para te abraçar. Assim, ele não me lembrará mais seus cabelos revoltos e o brilho no seu olhar.
Quero mudar de casa, porque essa tem aquele canto insistente que você ficava e a cadeira e o seu nome rabiscado nos muros onde desenhei mil corações.

Quero mudar de bairro – porque nesse – as ruas que te mostrei escancaram debochadamente me lembrando do riso que você deu, das cores que você gostou e do retrato seu seguindo por elas, devorando os becos com seu olhar de espanto, colhendo a miudeza das flores, bebendo o sabor do sol, só porque lembra onde você nasceu.

O meu lugar lembra o seu lugar. Quero mudar de cidade, de mundo, de planeta.
Ir para onde não aja lembranças e onde você não viveu. Onde em cada direção que eu olhar não veja marcas de sua presença. Aqui, há presença demais. Há lembrança demais e há saudade demais.
Aqui, o vento dança e rasga a pipa que algum dos meninos não conseguiu resgatar e o som dela balançando ao vento me lembra você.
Aqui há cheiro de pele na mão, nas roupas de cama e até o cheiro do sabonete líquido me lembra você.

Mudo tudo de lugar e jogo lembranças fora.
Depois vou lá e cato tudo de novo e me sujeito novamente a elas.
Esfrego a pele para tirar seu cheiro, mas é estranho, porque ele está dentro de mim.
Quero mudar. De mim.

Mariana Gouveia
Das palavras das cartas
Agosto é o mês de mudanças e de Beda.
Participam junto comigo:
Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Darlene Regina – Mãe Literatura – 
Suzana Martins – Roseli Pedroso
Imagem: Christian Schloe