Nosso amor era tão perfeito, que o destino
ficou com inveja.
Adriana Soleira
Ela era território meu. Lugar onde eu vagava e vivia e sentia quase posse. E sempre dentro da noite quando o silêncio dela chamava por mim, eu ia.
E assim, nas estações plenas que eu era feliz colhia vontades dela dentro de mim.
Ela era a origem onde meu poema nascia. Desenhada a dedo na pele nua.
Um dia e de repente alguém chegou. Primeiro, o riso dela dividiu-se e eu nem percebi. Mas, ela em sua transparência de rotinas me explicou sobre o desejo de ter um porto seguro. Eu, era a tempestade que a deixava plena, mas em voo constante.
(…)
Foi quando eu comecei a pecar. Sentir inveja…
Da lua que eu mostrei pra ela. Da cortina que o vento balançava e dançava pra ela. Invejava a rua que ela passava.
Eu era o hieróglifo onde ela gravara seu nome, seu código, seu mapa. Minhas histórias sempre terminavam nas dela. No meu quintal voavam os pássaros dela. Todo dia para mim era um recomeço e todo dia expiava meu pecado de invejar instantes dela.
(…)
Talvez a vida siga incompleta, talvez, talvez… Tudo é um caminho novo e desconhecido.
O que sei que é ali além das esquinas há um instante que invejo e que renego saber. O vento no telhado arrasta o nome dela e espalha pelo céu a imensidão de estrelas que ela fez nascer na minha vida, e enquanto abro o portão saio rua afora, reconhecendo os ladrilhos lilases na calçada e aliviada presencio a felicidade dela e para mim, é isso o mais importante.
Mariana Gouveia
Poema da Série Sete Pecados
Scenarium Plural Editora – 2015
*fotografia: Katia Chausheva