Desde pequena, o pai a armou de sementes
A parteira que a viu nascer rezou e desejou-lhe o dom
de semear.
Era assim com os irmãos, com as meninas dos vizinhos… com toda a gente que via nas vielas, trieiros e caminhos.
Ria e oferecia sempre potinhos prontos com terra, já adubados e as sementes – muitas das vezes, já germinadas. Com ramificações a criar vidas. Era assim, às vezes.
Em outras, até ajudava a molhar a terra
A vida, era feita de lágrimas e nem toda semeadura era boa.
Depois que plantava contava os dias no calendário
Sabia a data exata que o broto surgiria na terra
A folha crescendo, o olho acompanhando o rito do amor
Acontecia de várias formas no quintal
Mariana Gouveia
Colheita
Scenarium Livros Artesanais
Ph: Xing Jianjian