Das palavras das cartas · infinitamente · Mariana Gouveia

Desenhei a sorte…

no topo da lista dos desejos – isso, anos atrás como querência de amor tranquilo – e fiz e refiz em oração a palavra amor.

Nas simpatias, nos dias dos santos, o nome surgia em forma de código e na casca da laranja, retirada inteira, sem quebrar, a letra do seu nome gerava riso entre os irmãos.

O tempo junto com o universo tratou de ouvir meus pedidos e a sorte, hoje, mora comigo e cuida de mim.

Na canção que canta para mim, fala do amor infinito. Na oração diária, a esperança de cura. No cuidado do jardim, a simbologia da primavera que me oferece em gestos.

O amor é isso e mora comigo nas noites de insônia, na mão estendida, no ombro de amparo e até no silêncio, quando as poesias me habitam.

Ter você por todos esses anos é acreditar que muito mais que o amor de homem e mulher, a amizade e cumplicidade nos faz mais fortes, mais unidos.

Te amo sempre!
Grata por tanto!

Mariana Gouveia

Corredores · Livros · Lunna Guedes · Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais

Corredores, codinome: loucura – Leitura comentada.

Amanhã, sexta, dia 24/03/2023 no perfil da Scenarium, no instagram, às 19:30hs – horário de Brasília – temos um encontro marcado com Lunna Guedes e Suzana Martins para discutir Corredores, codinome: loucura.
Corredores, codinome: loucura é meu primeiro romance que conta a história de Maria, uma menina-vítima de abuso em sua própria casa e acusada de loucura pelo seu abusador, um homem acima de qualquer suspeita. Alguém que a sociedade considera incapaz de cometer tamanha loucura… e tal acusação só poderia partir de uma pessoa desequilibrada. Uma menina perigosa, que oferece risco a saúde e a vida da própria mãe, que opta por se proteger do eminente perigo, internando a filha no hospício…
Deixo o link para o primeiro capítulo do livro para você que me acompanha aqui:

Clica aqui para ler o primeiro capítulo do meu livro

Espero por vocês!

Das palavras das cartas · do verbo voar · Mariana Gouveia

E se floríssemos em preto

e branco como as divas mudas?

Carmen Picos

Ph: Gaëna da Sylva 

Carmencita,

só hoje soube de sua partida há tantos meses atrás e como prometido te escrevo. Gil canta no repeat. Reli as nossas mensagens até chegar em seu silêncio. Como alguém vai embora assim sem tempo de despedida? Depois, suspirei e agradeci por ter tido a honra de ter você em minha vida, mesmo que por trás dessa tela.

Ficou para trás a promessa do encontro, do abraço, dos poemas que eu leria e dos que faríamos juntas – quem sabe, um dia, para além dos mistérios que a gente desconhece isso não aconteça – ficou em mim o carinho que sempre me dedicou e da diva maravilhosa que se transformou aos meus olhos.

Eu te dava relatos diários do Chiquinho e você falava de música e agente falava de filhos. De gatos, de animais, de flor, de luta de Brasil e do mundo. Você me levava Espanha afora… madrecita, arriba e cariño…

Eu te achava revolucionária e você era fã do Che e de tantos outros que eu reverenciava também – e dos risos… – e a gente ria através de letras… era tantos kkkkkk e tantos hihihihi, hahahaha e tantos uias… e um dia de repente a gente se declarou… um eu te amo se confrontou com o eu também e o tu me faz bem e o Carmencita virou sinônimo do meu carinho.

Te contei sobre meu milagre de cura e você falou do milagre do universo que liga pessoas de lugares distantes como se fizessem parte da família. E assim, a gente foi tantas em mensagens únicas que nunca apagarei. Serão como mantras em dias difíceis.

Você é minha diva onde quer que esteja, em qualquer lugar do universo ou apenas em meu coração. Você será meu sorriso quando uma lembrança me trouxer você e quando um pássaro atravessar o céu seu sopro chegará até mim como se fosse abraço.

Voa, pequeninha!

Abraço carinhoso
Mariana Gouveia

InspirAção

A minha relação com a noite: inimiga/amante/amiga…

A minha relação com a noite: inimiga/amante/amiga…

Scenarium

Houve um tempo que era de medo. Bastava o céu fechar as cortinas e o escuro invadir o meu quintal que esse sentimento anestesiante reinava absoluto no meu corpo, por causa da dor. Eu tirava os chinelos e pisava no chão, para que a terra me fizesse firme ao caos que se estabelecia em mim. A dor é um bicho estranho e noturno. Mesmo quando eu estava entre os corredores, amparada por agulhas e fios… o medo surgia, como um fantasma. A dor era feito a noite sem lua-estrela… E não havia como não associá-la ao que a dor fazia comigo… Um vácuo, tipo guerra em que a explosão é apenas o medo de doer. E doía tanto. Havia noites em que doía tudo.

Mas, eu já fui amante da noite. Quando caminhei pelas ruas escuras. Não me lembro de me sentir tão segura quanto naquele tempo. O moço que…

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De todas as estações · Mariana Gouveia

Equinócio de Outono

Embora começasse outra estação, e como os livros diziam que começavam o equinócio do outono, para nós ainda era a estação das águas, porque a chuva persistia nos dias e a água tomava conta de todo lugar.

As gotas pareciam brincar com a natureza e a enchente sempre acontecia nas margens onde o rio beijava as matas.

Sabíamos que a natureza cumpria seu papel de estiochuvaestio…

Às vezes, chovia a noite toda e o barulho das gotas a cair no telhado era um convite para o sonho… Em outros dias, a chuva durava dias inteiros e ficávamos presos dentro de casa…

O cheiro do chá a invadir os aposentos… os irmãos a inventar brincadeiras e o céu a derramar bênçãos dentro da presença da estação.

Outono só nos brindaria em instantes nos meses seguintes e só aí, o vento nos beijariam em sopros com a amenidade do tempo

Mariana Gouveia

InspirAção

Corredores, codinome: loucura, de Mariana Gouveia

Quer adquirir seu exemplar? Siga o link do blog da Scenarium e você vai encontrar a sugestão de leitura, a resenha e o primeiro capítulo do livro só para você.

Scenarium

Em algum momento você teve a sua sanidade questionada?

Maria, personagem principal de Corredores descobre que não existe limite entre a sanidade e a loucura e que enlouquecer aos olhos dos outros, poderia ser a única maneira de preservar-se…

Olá,

Hoje é dia de sugestão de leitura aqui no blogue! E vou aroveitar a leitura comentada de março lá no instagram para indicar: Corredores, codinome: loucura, de Mariana Gouveia, que é um livro que exibe em suas páginas um elemento drásticamente contemporâneo: o abuso que crianças sofrem dentro de suas casas. Um lugar que deveria representar segurança e que se revela um verdadeiro pesadelo para meninas e meninos.

Não é atoa que é nos quartos residem monstros que se escondem dentro de armários ou debaixo das camas…

Precisamos estar atentos aos sintomas. Uma criança, vítima de abuso parental, muda o comportamento de maneira repetina: passa de criança calma e…

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infinitamente · Mariana Gouveia

Alquimista

Minha mãe era uma alquimista – embora ela talvez nem soubesse o que significava a palavra – e fazia mágica em tudo que tocava. Não fazia chover, como ela mesma dizia… mas fazia a delicadeza brotar em encantos bordados pelas mãos dela… dedos finos a tocar a linha como se fizesse carícia com o tecido.

Os bordados feitos com a delicadeza que ela sabia tão bem começava antes com o plantar do algodão e esperar seis longos meses para a colheita e só depois disso começava o preparo da linha. A fiadeira a dar o ponto e a espessura do fio.

Quando ela sentava no banquinho ao lado da roca, isso, depois de colhermos um a um os capuchos, colocados para secar até a hora de fiar, enquanto colhíamos as folhas-madeiras-galhos-cascas de diversas árvores que ela sabia tão bem qual cor seria a linha a ser tingida e ela ganhava – aos meus olhos – ares de bruxa ou fada. O cabelo de coque feito, o suor a escorrer no rosto como se tocasse a face de uma rainha – e ela era a nossa rainha – e o olho a medir a quantia certa de água e folhas ou raízes. Era um ritual que ela seguia – e a gente também – passo a passo… a folha da amoreira produzia um verde mais claro e a casca da cebola fazia com que a linha ficasse sépia e com isso o tecido ficava quase creme – ou beirando a isso – durante o processo químico. O caldeirão no fogo a ferver e o tempo certo do tingimento… a troca das folhas e o mergulhar do pano na água quente dava à ela o poder da cor e eu ficava encantada vendo o processo.

Depois da linha tingida, secada e tecida era a hora de bordar e criar delicadezas com as mãos. Os riscos desenhados por ela e o trabalho pronto me dava a sensação de mágica e assim, eu aprendia a arte do artesanato. O enxoval das minhas irmãs eram criados por ela e os das meninas de toda a região. Era a poesia desenhada em monogramas – que ela adorava fazer – onde o tecido era o papel enquanto a chuva caía.

Mariana Gouveia

InspirAção

Marielle… presente!

Se a intenção era calar a sua voz, falharam…
Nós falaremos por você sempre!

Scenarium

“Eu enquanto favelada, eu enquanto vereadora, que sei que desde a minha época de pré-vestibular comunitário, quando tive que fazer mais pré porque as escolas da região não me davam condições de tá nas Universidades Públicas, já sabia que isso era político”.

Marielle Franco
1979 — 2018

Cinco anos se passaram… e a pergunta ressooa, sem respostas. Foi-se a Mulher. Mas não foi em vão. Sua luta se tornou herança de muitas outras…

E neste 14 de março (que soube ser o dia nacional da Poesia) convido você a leitura dos textos escritos ontem e hoje por encomeda para um projeto que é memória para que a gente nunca se esqueça que a luta continua por ela e por todas nós…

Boa litura…

Três poemas de
Adriana Aneli

Um grito…

Uma missiva para Marielle

Dois poemas de
Nic Cardeal

Uma crônica de
Obudlio Nuñes Ortega

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Corredores · Livros · Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais

Resenha | Corredores: codinome, loucura

Por Suzana Martins

ph: Suzana Martins

Corredores: codinome, loucura é uma história forte, densa e que vai te deixar completamente sem fôlego. A escrita poética da Mariana Gouveia, te transforma e emociona. Você não vai consegui tirar os olhos de Maria.

Maria foi largada na loucura do outro sem ao menos ser ouvida. Teve seus sonhos amassados e jogados no lixo, como se fosse um papel velho. A esperança perdeu-se em meio aos gritos de socorro que foram abafados dentro de um corredor vazio sem qualquer chance de vida.

Depois da morte do pai, Maria viu a sua mãe organizar uma nova vida com Edgar. Homem de fala mansa e sorriso fácil, mas de alma ensanguentada a amedrontar e enlouquecer uma doce menina que queria apenas saborear as nuances da vida.

Após o assédio, Maria foi chamada de louca. Largaram a jovem nos corredores sujos de um sanatório, aos cuidados de Mathilda – uma mulher sem alma. A mãe de Maria jamais acreditou que Edgar fosse um assediador.

Ph: Suzana Martins

Maria estava sozinha. Mathilda a machucava. Os enfermeiros a aprisionavam cada vez mais em suas dores. Os dias eram cinzentos e, com o passar das horas, as cicatrizes ficavam cada vez mais profundas. Foi ali, naqueles corredores, que aprendeu a fingir…

Ph: Suzana Martins

A história é emocionante, real e significativa. Cada capítulo, uma vontade gritante de libertar a personagem daqueles corredores úmidos, frios e aterrorizantes. Cada página te arrepia, te acolhe e suplica!

Ph: Suzana Martins

Há muitas Marias que precisam ler/conhecer essa história. Mas preste muita atenção, pois essa será a última vez que ela irá comentar sobre isso na vida.

CORREDORES: codinome, loucura é o primeiro romance de Mariana Gouveia publicado pela Scenarium Livros Artesanais.

Mariana Gouveia · Plural · Scenarium Livros Artesanais

Carta aos cuidados do mar

Querida minha,

O dia acontece sem demora. A chuva antecipa a vagareza nos gestos.
O guarda-chuva quebra e o vento leva o pedaço rumo ao muro gigante da rua de cima.
E eu me lembro de você sempre que alguém assovia uma canção conhecida – que liga a tua  à minha e faz com que o som pareça ecoar dentro de nossa história.
O acaso, é essa fotografia que vejo dependurada na parede e tem suas iniciais gravadas no peito, enquanto a trovoada ecoa lá fora… As gotas, trovões e um pedaço do céu a alaranjar no Oeste – são gritos de sua alma na minha.
Ainda sinto o tatear de suas mãos a tocar-me com o desejo nos gestos. Vejo vestígios de um sapato na enxurrada e teu sotaque a relembrar uma curva do mar em que os calçados continham liberdade de alguém.

Bebo a chuva na palma da mão. A madrugada tem o dom de perdurar dentro das manhãs sonolentas. O sabor agridoce na boca dos teus sabores em mim. A leveza da pele úmida de vontades e ainda o encontro que não veio – e eu apenas o imagino.

Na volta, a chuva já se foi e o dia tem aspecto de inverno. Apenas a palavra da estação vibra em mim e penso nos instantes mágicos madrugadores que a gente viveu.

Na memória, sua pele trouxe a leve ironia das manchinhas nas costas. Nem era de Deus essa pele com pintas, onde desenhei nas pontas dos dedos o mapa imaginário do teu lugar.  Sinto que estou em você, e pensando nisso me aninho em teu colo como miolo de flor.

Me coloquei dentro das histórias de um outro país que você já visitou. Não era seu perfume que exalava… Era a rua de alguma cidade estranha e suas lâmpadas a iluminar as sombras nas calçadas; sou levada dentro da história e respiro a canção… 

Lembrei-me da dedicatória de um poema seu. O vulto das suas letras em carvão quase desenhando corações nas rotinas do dia. Fui me desmanchando nas suas poesias como líquido que escorre afoito feito rio que deságua no mar…

Era pouco, tão pouco ali o mar – tão imenso em seu alcance com o céu – a beijar o sol com suas rotinas de aves e gaivotas. Era pouco e era tanto e quanto aquele rio pedinte de toque, de encontro. E no pulsar das margens que o ladeiam, o suspiro, e era tanto – um mar de saudade – um rio de água doce de vontade nos gestos dos dias.

O avesso do mundo é essa lonjura nos mapas que vi nos livros de histórias onde te invento uma história com final feliz para nós duas.

Beijo

Mariana Gouveia
Carta publicada na Revista Plural Erótica – Scenarium Plural Editora
Agosto 2019
*imagem: Jonas Hafner