Querida Luci,
Hoje eu vim responder seu puxado de assunto sobre árvores. Aqui choveu o dia inteiro… aliás, desde ontem chove e o rio que corta minha cidade ao meio está a ponto de esparramar água ruas afora. São quase doze horas de chuva ininterrupta.
As árvores do meu lugar fazem festa… tem até pé de manga dando flor. Da porta da sala onde trabalho vejo as manguinhas se formando. São temporãs, eu sei…Mas essa água benta que cai favorece algumas a se manter em pé, florir, dar frutos e outras até cair, Luci.
Nos meus arredores não caiu nenhuma… mas foram derrubadas. – e isso é pior do que cair porque já cumpriu sua missão de árvore –
Aqui, derrubaram em nome de um progresso que nem veio. Falaram que iam construir o VLT, Luci e levaram centenas dos meus ipês que coloriam as ruas com suas cores para o lixo.
As ruas hoje, estão peladas de árvores. E não há também o tal VLT. Mas ainda há alguns lugares onde elas exalam a singeleza pura da natureza.
Ali, eu me faço descalça e peço a permissão para o abraço. Há o ipê rosa, o branco e o amarelo dourado… além do roxinho do araçá e a magnitude dos flamboyants.
Não sei se o tempo de uma figueira para renascer de novo. Sei que o cedro demora anos. Lembro até a canção que meu pai cantava quando ia campear o gado.
As árvores cumprem uma missão, Luci…A sua também teve. E assim, vamos seguindo catando sombras que tão gentilmente nos dão. As flores e algumas, a cura em forma de folhas e raízes.
Todos os dias, quando o ônibus me leva rumo a mais um dia de trabalho, eu ainda busco as que existiam por aqui. E faço como você, olho para o canto e as vejo – ou imagino – e ali, acato o céu em seu rumor de asas e sigo.
Dia após dia.
Beijo, Luci
Mariana Gouveia
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