Eu morava perto de um bosque e todos os dias eu a ajudava pela manhã a colher cogumelos nas redondezas. Meus irmãos e os meninos da vizinhança tinham um medo terrível dela. Eu, não! Para mim, ela era aquela fada das histórias que eu lia e que falava tanto de bruxa, duendes e príncipes.
Ela me olhava com aquele olhar de poesia quando eu me aproximava… Cantarolava uma musiquinha que tinha meu nome no meio e me ensinava a distinguir os cogumelos bons dos ruins.
Um dia, eu falei das poesias, que eu queria aprender. Ela sentou-se na relva, mandou que eu fizesse o mesmo e pediu que eu descrevesse o que via. Além da visão normal, da vida do meu lugar eu via nuvens, pássaros, e o cheiro do capim me transportava pra uma visão diferente do que eu via normalmente.
– Pronto! – disse-me ela – Acabou de criar uma poesia.
– Mas eu quero uma poesia que fale de amor. – eu falei – de um amor tão intenso que um dia vou sentir. E que estando junto vou querer ficar para sempre e estando longe, vai parecer que estou junto. E o meu coração vai estar sempre em sintonia com ele, e minhas mãos vão querer tocá-lo, e o sol vai brilhar para nós dois. Um amor desses de livro.
Ela riu e eu vi um brilho tão intenso no seu olhar; murmurou algo inaudível aos meus ouvidos de menina…
Levantou-se e saiu como se quisesse voar…
– Eu volto… mas esse amor aí de que fala, essa poesia, já existe aí dentro. Só precisa do tempo para vivê-la.
Hoje eu percebo isso… eu já o amava desde a infância. Só era preciso te encontrar para dizer. E eu o encontrei a 35 anos atrás e até hoje, esse amor me faz ser quem sou, dentro dos instantes de poesia e cuidados.
Mariana Gouveia
Agosto é o mês de sonhar e de B.E.D.A
Participam desse projeto: Claudia Leonardi – Obdúlio Ortega – Lunna Guedes – Roseli Pedroso – Adriana Aneli – Darlene Regina