Não sei, minha mãe, o que escondeste nas sílabas,
que violenta neblina lá guardaste,
mas não esqueço a euforia do espanto,
essa festa distante onde chamava por ti devagar,
sempre tão devagar.
José Oliveira Fernandes
mãe,
como eu conto esses dias que atualmente passam tão rápidos? Mesmo que eu não queira, maio me traz o dia que seria seu aniversário. A folhinha arrancada logo cedo vem junto com as memórias desse dia em anos anteriores – tantos, que às vezes, esqueço quantos são.
Sabe, mãe, são mais dias sem você do que com você. E não podia nessa data ficar sem o parabéns para você. Sete filhos já dava uma festa ao redor da mesa, lembra? O bolo de milho, de puba e os biscoitos de polvilho, o suco de tamarindo, servidos na mesa de madeira debaixo do pé de sete copas e os campos enfeitados de flores amarelas. Eu sempre dizia que os campos se enfeitavam para você, dentro de maio, como se com isso te presenteasse com o dourado a se estender até se misturar com o verde das matas.
Acho que você se orgulharia de mim, mãe… tenho conseguido me sair bem, mesmo quando alguns dias ficam difíceis de gerir. E mesmo quando os olhos se espremem em lágrimas, logo tudo passa e sigo em frente. Ainda falo com você também, mesmo com 42 anos de ausência. É tão presente, que às vezes, parece que está logo ali, a cuidar da horta, dos bichos, das roupas na bacia.
Gostaria que você soubesse que ainda sigo alguns rituais que você nos ensinou. Também vivo fazendo artes como as que você fazia e seu neto, mãe, já é um homem lindo. A vida continua mágica, apesar de tantas coisas estranhas causadas pelo homem e nesse dia, te reverencio com as mãos justapostas e te abraço com meu coração.
Feliz Aniversário!
Mariana Gouveia