Bambina mia,
Aceitei um convite seu de agora a pouco para aumentar o som e foi o que fiz… Pink agora ecoa no meu quintal enquanto te escrevo e lembro-me que a primeira vez que ouvi Try foi aí no seu lugar. Você estava a beira da mesa tecendo fitas de cetim unindo minhas palavras de Cadeados Abertos. Em pé, na porta, guardei aquela imagem e salvei na memória o refrão para quando voltasse ao meu quintal. Desde então, a canção faz parte da minha playlist que tem seu nome. Essa playlist é a trilha sonora de minhas tardes-noites de todos os dias onde acrescentei algumas canções coreanas que tocaram meu coração nos últimos meses.
Mas, eu queria te falar da manhã que surgiu aqui, sem o frio intenso que já arrastava há alguns dias… Busquei no canto norte – ah, o Norte – do muro os primeiros raios do sol que falamos tanto e revisitei nosso diálogo de ontem – as últimas palavras antes do sono me consumir – e do quanto elas me acalentaram depois de um dia triste e tenso. Me aninhei no seu abraço e vaguei pelo espaço do meu lugar.
Depois dos afagos nos cães e de coar o café, a primeira coisa que faço pela manhã é caminhar no quintal, com a xícara nas mãos… verifico os casulos, as joaninhas no pé de algodão – que pasme! nasceu de novo e já está grande, depois do último que foi arrancado em uma tempestade – e vou aguar as plantas. Mas, hoje, meus olhos pousaram no Encontro – esse pássaro que ganhou ninho por aqui, com sua asa de filete laranja – e fiquei horas a ouvir o trinado dele que você já ouviu em alguns dos meus áudios, no varal. Somos sim essas observadoras de pássaros e tudo isso se transforma em momentos nossos.
Já te contei que chorei com sua missiva e de como comecei a manhã igual você descreve nela… Mas juro que só vi sua missiva depois das palavras iniciadas em meu caderno de florzinhas rosas no começo da tarde e fiquei a imaginar como o universo nos liga mesmo que através da escrita em momentos – quase – iguais onde me aconchego dentro do abraço que sempre me oferece. Já te disse que é o melhor lugar do mundo para mim?
Aqui, encostadas no pé de ipê estão as cadeiras – não tenho poltronas – de fios onde suspiro em alguns momentos do dia. É onde disputo os voos dos pássaros que voam por cá e muitas vezes com Yoshi que quer a cadeira preferida e seu inseparável travesseiro. É aqui que te acolho em tantos momentos e onde meu riso te alcança nas conversas bobas e variadas.
É onde também te grito quando os trovões ecoam por aqui. Maio já se precipita dentro dos dias e eles só aconteceram por aqui uma vez… Por enquanto, o som que ecoa aqui é Try – que está no modo repeat enquanto as imagens invadem minhas mente como se fosse reprise, como um filme.
Bacio,
Mariana Gouveia