tem palmeiras onde canta o sabiá
Dizem que a gente nunca esquece a primeira vez… e eu ainda guardo na memória a primeira vez que pisei em Cuiabá. Eu tinha sete anos e minha mãe veio visitar a minha avó, logo depois da partida repentina do meu avô.
A cidade grande encheu meus olhos ainda dentro no ônibus, na rodoviária. Minhas mãos, grudadas nas da minha mãe dentro do táxi que nos levava ao endereço escrito no papel: Avenida São Sebastião, bairro Santa Helena.
O carro cruzou a principal avenida – Getúlio Vargas – ladeada de palmeiras, onde não se enxergava o fim delas.
– Será que elas tocam o céu, mãe? – digo isso, enquanto o motorista conta que aquela avenida era o cérebro de Cuiabá e mostra do lado o direito, o cinema, a fonte luminosa na praça, que no fim de tarde, já fazia sua dança de cores e logo mais acima, ficavam os bares, mas viramos antes. naquela noite, eu nem dormi. As novidades eram muitas e dentro dos meus sete anos conheci meus tios maternos pela primeira vez.
Um dos meus tios me levou de bicicleta mais uma vez, antes de irmos embora, de volta para nossa casa, na rua que tinha as palmeiras. Tão imponentes e altas que pensei que tocavam o céu. Ali, ouvi os sabiás, de cantos diferentes dos sabiás da fazenda.
Anos depois, mudei para Cuiabá. Parecia que a avenida me acolhia todas as vezes que passava por ela. Era como se ela recordasse daquela menina cheia de sonhos. As palmeiras ainda continuam ladeando a avenida como se a protegesse. E eu ainda ouço os sabiás e outros pássaros por ali e já não penso que o canto seja diferente dos pássaros da fazenda. Talvez, a menina se confundiu com o canto, diante da magia das copas das palmeiras que ainda tocam o céu.
Mariana Gouveia
Todas as ruas