infinitamente · Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais · via lunar

Dos dias aleatórios de abril

Havia roteiros de lua no quintal. Um vaga lume invadiu a sala e chamou a atenção do cão – logo ele que gosta de correr atrás da luz da lanterninha vendida nos ônibus – foi um achado! Teve de contê-lo e socorrer aquela luz que voava.

Procurava no céu alguma coisa que estivesse escrito nas estrelas. Elas desenham o caminho de Santiago – alguém disse um dia – desde então, lembra-se disso quando olha para o céu em noite de lua e estrelas. Depois disso, sonha em fazer o caminho de Santiago e já desenhou o mapa quinhentas vezes mentalmente e outras quinhentas vezes no papel. De tão lindo que ficou, pensou em bordar.

Olha para o Cruzeiro do Sul e vê Vênus quase na ponta da Lua – um piercing ou um riso disfarçado de Lua – no quadrante leste do céu.

Relembra coisas da infância. Das regras que seguia em relação à lua. O cabelo – sob recomendação séria da mãe – só poderia ser cortado na lua cheia. Era assim que os cabelos das mulheres indígenas ficavam fortes e bonitos. As pontas poderiam ser tiradas na lua crescente.

As rosas brancas deveriam ser replantadas na lua nova. O feijão, colhido durante a minguante de Maio – evitava perdas, o pai dizia – e fazia o feijão não carunchar. A macela, colhida na lua cheia específica da sexta-feira da Paixão para fazer chás potencializava a cura.

Tudo na vida dela fora um ritual de datas lunares e solares. De cores e de sabores. De magia e expectativas.

Quando deita no chão do seu quintal, refazendo o mapa das estrelas que indicam o caminho para Santiago, revê esses instantes que fez de sua infância uma riqueza só.

Os rituais ficaram marcados – segue até hoje – Deus a livre apontar o dedo para uma estrela! Apesar de ter ficado lá atrás a lenda de que se fizesse isso, nasceria uma verruga na ponta do dele.

Fica horas ali, todas as noites. É um momento único de lembranças que vão e se recriam no doce modo de espiar o céu.

Sabe desenhar cada coisa sentidas nas fases que a lua inventa em seu caminho no céu. É o ritual que segue quase místico na essência de viver.

Mariana Gouveia
É abril e é mês de b.e.d.a – blog every day april
Participam comigo
Lunna Guedes – Suzana Martins – Roseli Pedroso – Obdúlio Nunes Ortega

5 comentários em “Dos dias aleatórios de abril

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