
Contaram para mim uma história. Queriam ler a palma da minha mão. Disseram que as manhãs aconteciam em mim como um desfolhar da folhinha com o dia do santo. E que o azul do meu céu era como um carro antigo exposto na vitrine e meu quintal uma tela difusa de instantes.
Me deram as respostas e eu nem havia feito as perguntas. A arte era barroca em meio ao novo. As paredes da igreja matriz sendo mudadas e o restaurador dizia sempre o nome de quem havia doado a maior parte do dinheiro. A tinta modificada via computador e tudo tão diferente aos meus olhos.
A mulher de preto carregava um luto não previsto. Ficou comigo a espreitar o frio e a sacudir as mãos, como se tocasse uma sonata no ar. Calada, segurou minha mão como se fosse pesada a dor.
Começa a ler um diário distinto e enumera o labirinto da flor. E eu descalça, nem sabia nadar… Queriam ler a palma da minha mão… falaram sobre a estrela secundária e era pobre o destino nos dias frios, enquanto nos corredores, o vento cortava a pele.
Seria perfeito essa noite se chovesse e minha mão fosse colo para acolher a vida miúda das coisas. O amor sendo feito nos gestos. O amanhã, a vida de quem a gerou ganha ares seculares… Repito a palavra fácil em todos os instantes da vida, enquanto a veia fraca conta o cabelo que cai. Mas a mão… ah! Essa é colo para acolher a vida miúda das coisas e o amor sendo feito nos gestos.
Mariana Gouveia
🤍🤍
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