azul em qualquer céu. · Das palavras das cartas · Lunna Guedes

Beda – As plantas acenavam ao vento de agosto…

Bambina mia,

agosto durou tanto aqui, que parecia que eram dois meses em um só. Devo confessar que dancei no quintal em uma noite escura, sem lua, ouvindo a canção que você me enviou. Eu estava sem sono e a madrugada corria solta. Um céu cheio de estrelas e pela primeira vez, senti medo de ir para a rua de cima. Não sei porque. Dançar foi o que me coube em um quintal escuro e um céu cheio de estrelas.

Agosto foi um eco em um quarto abafado – você sabe – e os dias no calendário se estranharam na folhinha na parede da cozinha, onde anoto o dia do gás. Mas, devo confessar que até minha mãe dizia que agosto tinha esse sufoco na alma. Era o mês dos cachorros loucos – e nunca entendi essa expressão – e a gente vivia com medo da baba do cachorro da vizinha, coitado. Nunca mordeu ninguém.

O ipê do meu quintal floriu… Te mostrei em fotos o amarelo dourando meu quintal… mas, quando agosto já quase dobrava os dias em seu final de mês, e já havia amanhecido, bambina… a rua de cima se enfeitou de cor… eu quase fiz reverência para a árvore que se desdobrava em amor em forma de botão de flor. As plantas acenavam em um vento de agosto que nunca tinha visto e fiz o sinal da cruz.

Na volta, eu passei no mercado e vi a massa que você usa e quis fazer igual. E lá vou eu para a cozinha – essas coisas de alquimia que já te contei – e pica-se o tomate, o pimentão, o alho, e a abobrinha. Sabe que faço isso em homenagem a tu, né? E o sabor me levou até você… Já falei das vezes em que queria te trazer até aqui? Queria te mostrar as quatro estações, simultaneamente dentro do meu dia e ressarcir o calor que você sentir em um abraço. Queria te mostrar a rua de cima e mostrar minhas coisas para você e depois, te devolver para o teu lugar dentro de um abraço… O mesmo que te pedi hoje. O mesmo que ganhei de você hoje.

Tem dia, que parece um mês… Beira a teoria do caos… Mas, tem dia que a leveza vem através de risos largos, de silêncio confortante e de saber-te ali.

Isso eu sei… e pode ser em qualquer dia, de qualquer mês…

Amo tu imenso!
Grazie!

Mariana Gouveia
Das palavras das cartas
Agosto é o mês dos ipês rosa na rua de cima e de Beda.
Participam junto comigo:
Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega  – Mãe Literatura – 
Suzana Martins – Roseli Pedroso

3 comentários em “Beda – As plantas acenavam ao vento de agosto…

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