{E de repente
o resumo de tudo é uma chave.
Carlos Drummond de Andrade}
Querida Flávia, ou seria Luziana?
Confesso que ao ler seu livro-conto fiquei em dúvida. Escrevo para a autora ou para a personagem? Misturei a história contada com as das mulheres que conheço e que nem posso chamá-las pelos seus nomes. Elas fazem parte de um programa de proteção de testemunhas, porque em algum momento na vida delas, foram Luzianas. A maioria vive com outro nome, outra casa e perderam a identidade para não perderem a vida.
Faço parte de um grupo que dá apoio e aulas para que elas sigam um novo caminho e comecem de fato, uma vida nova. Levarei seu livro no nosso próximo encontro. Acho que será mais um ponto de apoio e esperança para elas.
Sabe, Flávia, quando vemos uma história como a de Luziana, a vontade que dá é de sacudir, gritar e mostrar tudo que já aconteceu com as mulheres que eu conheço. Eu mesma, já fiz isso… daí, você se coloca no lugar da outra, pensa nos sonhos e ao mesmo tempo na realidade. Alguém me perguntaria: mas mulher não pode sonhar? Mulher não pode ser a protagonista de sua própria história?
Eu te diria que mulher tem que ser forte – antes de tudo, ser forte – como Luziana foi, como a Flávia é. A sociedade cobra isso, mas não nos oferece segurança. Claro que sonhamos com esse amor redondinho das poesias e dos contos. Ou pelo menos, com um amor que nos respeite. E quando isso não acontece, temos que gritar, e mostrar tão bem como você mostrou que o amor não precisa de mestre.
Amor sem Mestre é a realidade pura de tantas Marias, Joanas, Luzianas, etc.. não há um dia em que os relacionamentos abusivos não estejam estampados em jornais, manchetes de telejornais. A história que você escreveu traz para essas mulheres a esperança e a certeza de que é possível recomeçar.
Seu livro deve ser lido por todas as mulheres… não como um guia, mas como um abraço e mãos ofertadas. Não posso deixar de falar da edição primorosa de Lunna Guedes e das ilustrações – maravilhosas – de Carly Ca. Tudo se transforma em um afago na alma quando a beleza da escrita vem junto com a dedicação da Scenarium.
Flávia querida, eu diria para você que me vi representada em suas palavras. Precisamos escrever mais sobre isso para dar voz a quem se vê em relacionamentos que machucam e sangram, literalmente, sem ter força para gritar. A Scenarium já fez isso com Alice, Uma voz nas Pedras, de Lunna Guedes e os meus Corredores, codinome Loucura e Portas Abertas, Codinome Lucidez. Mas ainda é pouco. Precisamos de mais vozes ecoando em nome dessas mulheres para que isso se torne menos frequente.
Para Luziana eu daria apenas meu abraço. Porque acima de tudo, ela usou a coragem para dizer o não quero mais.
Finalizo essa carta estendendo a mão para você… Nela tem uma chave… é cópia da minha chave de abrigo, porque no fundo só precisamos que alguém nos dê essa chave que abre as portas da coragem e do coração.
Abraço carinhoso,
Mariana Gouveia
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