Li apenas o prefácio do Livro Lua de Papel, que será lançado hoje e o primeiro capítulo é como água para quem tem sede do que vem ainda para ser sorvido, servido e tocado.
A coragem de escrever sobre um tema tão debatido hoje e ainda assim tão cheio de preconceitos é de inspirar, respirar e dizer em todas as palavras o que me tocou. Lá, na história que não li eu me vejo em cada uma a desvendar a reação e a controvérsia do que é “normal”. Nos meus guardados no baú, as folhas já amarelando de um tempo que nem tinha computador e os desenhos dos dias vividos tal qual como se alguém escrevesse agora.
Eu poderia usar o nome de alguém aqui, modificar, ou pegar apenas a letra inicial. Eu a chamaria de M e contaria das madrugadas risonhas no meu quintal contando estrelas. Poderia falar de infinidade de coisas e de afinidades de personalidades. Ainda assim, seria capaz de descrever cada palavra que foi trocada e de cada carícia dada.
Ela me deu Maio de presente e fez em meu outono florescer a primavera. Cada dia, em espécie de flor eu era vivificada na estação dela. E a mim, só era permitido voar. Enquanto a vida segue seu curso eu sonho.
Alguém lê poesias, escreve cartas, manifesta. Outro, não faz nada. Apenas caminha. Lunna lança livro. Enquanto ela visita um jardim de papoulas para avermelhar de cor o meu mundo.
Eu a amo.
Ela é quase silêncio preservado em sua intimidade. Eu, grito explodido em quatro ventos. Eu a exponho mais do que ela deseja e assim, mansamente ela aceita meu jeito de ser. A metade dela que posso oferecer e ainda assim, ela nem imagina que eu sou inteira dela.
Não sou nenhuma das personagens. Poderia ter sido. Poderia ainda ser. Tudo é tão novo e tão estranho. Distante e tão aqui. Vou estar presente onde não estarei fisicamente. Vou estar fisicamente onde não estarei no coração. Por que meu coração viaja, abraça mudanças, lamenta erros e ri diante das sensibilidades. Atravessa oceanos e mora ali enquanto durante o dia, Lunna anseia pela noite que vem. Pelas palavras que alcançarão o mundo e pela história que tão belamente descreveu. Poderia ter sido a minha. Mas não foi. As folhas se misturam e confunde-se em datas.
As mudanças se infiltram aqui. Sei que ninguém espera um mundo novo amanhã. O preconceito ainda estará dominante e absorvido, Mas escrever sobre o assunto é um sinal de que, as diferenças podem ser respeitadas.
E dentro de todas essas mudanças ela ainda viverá dentro de mim nos Maios subsequentes e em todas as estações.
Mariana Gouveia
*Este post é parte integrante do projeto “Caderno de Notas – Terceira Edição”
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