– era o ninho vazio e a solidão da asa enquanto chovia. O gesto da noite de fechar as portas era ele quem fazia. Ficou vazio o canto onde ele dormia.
Nem cabia ninguém nessa ausência. A casa continha presença em todo canto.
Arrastei o tapete pela casa. Tentei vencer as horas dos lugares mortos. Um telefone toca ao longe e alguém grita. O cão late na ansiedade de um portão que não abre.
As gotas que aliviam as dores dentro do chá. A rotina do tic tac do relógio da sala. Fazia tempo que não chovia dentro de mim.
Respirar é um ato difícil dentro dos corredores. Nos muros, os grafites quase apagados – havia uma declaração de amor descrita na carta – e o pássaro invade o dia com seu canto.
Mariana Gouveia
Desvios para atravessar quintais
Scenarium Livros Artesanais
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