Como se fosse roupa
guardada no armário,
os cabides segurando as alças,
s memórias ficam suspensas
dentro de mim
Mariana Gouveia – As estações
Paty querida,
quando penso em você as minhas memórias se voltam para minha mãe costureira. É como se você colocasse o fio na agulha e puxasse as lembranças e elas me levam à Outras costuras.
A linha, a agulha, o tecido, os pontos… tudo foi me ligando a você e quando veio a pergunta sobre o que significa bordar e costurar, as respostas de quase todas as meninas foram as lembranças de mães e avós. Eu vivi doçura ali, Paty e mergulhei nos tecidos guardados. Nesse dia, eu fui costurar, lembro-me bem.
Eu já te contei que minha costurava e bordava? Mas, antes disso tudo, minha mãe parecia uma alquimista, daquelas que são personagens de livros. Nas sextas-feiras de lua cheia minha mãe nos levava para a floresta adentro, e ali, colhia as folhas de determinadas árvores. O angico, a aroeira, o mogno, o cedro e outras espécies “cediam” suas folhas/galhos/cascas e alguns frutos para nós.
O ‘ceder” era quase um pedido de oração e desculpas. Havia um ritual a seguir e assim, a floresta era a doadora dos restos de seus galhos/folhas/cascas e voltávamos com os cestos cheios para casa. No dia seguinte, o caldeirão era colocado no fogo e cada espécie tinha um tipo de procedimento para tingir os fios.
Depois de colher o algodão, Paty, a minha mãe tecia em uma roca o fio. O varal ficava lindo de ver as nuances de cores se formando depois do tingimento. Só depois de dias secando é que o fio virava tapeçaria/roupas/linhas. A organza ganhava a tonalidade creme depois de envolvida na água das cascas de cebolas e assim por diante. E meu vestido de bolinhas era feito na velha máquina Singer, assim como as roupas dos meus irmãos.
Por várias noites, minha mãe se debruçava sobre a máquina para costurar. Dali, saía as nossas roupas, os lençóis de linho bordados para enxovais das minhas irmãs e das meninas da redondeza. E as colchas de retalhos feitas com as sobras de tecido nos aqueciam em noites frias.
Foi ali, ao pé da máquina, enquanto minha mãe costurava que aprendi a bordar. Seguindo os riscos que ela mesmo criava e só depois, através dos livros do Instituto Universal Brasileiro, que chegavam pelos correios que desenvolvi a arte da costura e dos bordados.
Eu quis dividir com você sobre isso, porque assim, costuro minhas memórias às tuas e juntas resgatamos momentos queridos. Paty, eu te gradeço por me permitir esse instante. Faz tempo que eu queria te contar essas coisas e de como Outras costuras toca meu coração. Os pontos alinhavados no aconchego que sinto quando penso em você. É assim que a gente borda a amizade.
Abraço carinhoso
Mariana Gouveia
Projeto Blogvember – Scenarium Livros Artesanais
Participam juntos comigo: Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Roseli Pedroso e Suzana Martins
Que linda costura de palavras, Mariana!
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Grata sempre e tanto!
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Mariana minha querida, você é uma artesã das palavras. Borda, chuleia, caseia divinamente acrescentando plantas colhidas no jardim, carinho nos pets e alinhava com perfeição todas as histórias. Detalhe: Amei esse vestido. Adoro poá (risos)
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Sou apaixonada por poás. Sou conhecida por alguns como a mulher das bolinhas… rs
Ah, Roseli, tu me deixa mais linda sempre ❤
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Também sou conhecida pelos meus vestidos e blusas com essa estampa. Mari, tu é linda😍
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