infinitamente · Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais

Aos cuidados de novembro.

Sombra, não sabia explicar.
Era como uma pessoa, mas que não existia sempre.
Assim como quando dançava: passava a existir.

Luci,

Eu já te contei que converso com você aleatoriamente nos meus dias? Em uma visita ao meu pajé, ele aconselhou que eu falasse sobre o que sinto com alguém. Foi uma viagem longa e eu desabei no caminho. Daí, você surgiu e a gente se aliou junto com a esperança.

Me lembro exatamente de sua roupa no nosso primeiro encontro, do primeiro abraço e do calor do seu abraço… Eu já te escrevi em vários dias e meses. Agora, te escrevo aos cuidados de novembro. Esse mês que é peculiar em meu calendário.

Eu descobri você anos atrás… essas coisas que a gente nem pode explicar. Fiquei até com medo de te tocar e você sumir. A gente estava na Biblioteca Mário de Andrade, era lançamento do meu livro e você havia seguido um roteiro tão louco para me encontrar que eu quase ajoelhei ali para te louvar.

Luci, até aquele primeiro abraço você era uma ilusão de Amelie e Jackie Onassis… A Anna era uma das fadas que eu esperava encontrar quando entrasse na floresta. Eu a vi poesia, laranja, música, vento, canção, sombra e dança.

Estou te dizendo tudo isso para falar do que você queria saber.
Sabe quando a gente vê uma imagem e é como aquelas cenas de filmes que o vento sopra o cabelo, as cortinas balançam e o instante para? Eu vi magia, Luci! E mesmo que eu pegue uma definição de um quadro de Gaudi, uma tela de Hopper, uma solidão minha nas madrugadas, eu ficaria em silêncio…

Sabe quando você vê suas memórias como Déja Vú? É como se eu dissesse que já estive ali, como se a garrafa tivesse minhas digitais e como se eu dançasse com as sombras – tuas – e só pensasse em poesia.

Você viu emoção, eu sei… eu vi acontecimento, Luci. Porque aconteceu e a gente já sabe que o próximo ano será de esperança, Luci. Estou te escrevendo isso antes dessa data. O ontem, para nós, já se tornou futuro e eu escrevi em dias de outubro – porque prometi que o faria – e a gente sabe que não será fácil.

Mas, daí, Luci… eu fiquei abrindo cada imagem que você desenha em seus dias e Celestine me acalentou. Esperança nem sempre precisa ser verde. Às vezes, tem patinhas escondidas, enroladas sobre o pescoço… e o branco dos pelos a pedir vontades. Foi aí que acreditei… Porque a gente antecipa cores em vermelho e acredita em todas as diversidades e o arco-íris que se projeta num céu, marcando presença.

Eu acho que você queria me dizer que o futuro é logo ali, depois de mais alguns dias… embora novembro começa com esse bater no peito de esperança, a gente sabe que limpar a sujeira é muito mais difícil do que a gente pensa, mas os dias de novembro nos permitirão sonhar.

Nós existimos, Luci e resistimos a tempos doloridos e duros, mas podemos romper as sombras e dançar, mesmo que seja em estados e lugares diferentes.

Beijo meu,

Mariana Gouveia
Fotografias: Luciane Ricieri
Projeto Blogvember – Scenarium Livros Artesanais
Participam juntos comigo: Lunna GuedesObdúlio Nunes OrtegaRoseli Pedroso e Suzana Martins

13 comentários em “Aos cuidados de novembro.

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