De quando em quando o tempo sai dos livros e inscreve-se nos corredores das casas nas prateleiras dos móveis e observa mudanças iguais neste presente passado.
Não compreende que como ontem,
hoje foi amanhã, e depois, é quase sempre agora.
Quando saio de mim só quero poder voltar para encontrar a prateleira, o corredor
e encontrar o tempo cá passado, mas bem arrumado, a dias, por meses.
Como sono para ficar no inconforto do vago, no corredor deste dia a dia, surdo.
Como sei das rotinas, das minhas, nunca me cansaram as dos outros.
Gonçalves de Sousa
Bambina mia,
Enquanto te escrevo penso na hora que você já viveu e que sempre invado com meu passado estranho. Já estranhei muito esses fusos – hoje, não mais – e agora até acho lindo ganhar uma hora quando vou te ver e perder uma quando volto do seu lugar. É como se estivéssemos em dois mundos diferentes, mas um dentro do mundo da outra.
Quando li seu texto meses atrás veio na memória o que vivi com você na Paulista. A minha passagem pela famosa avenida da Paulicéia desvairada não poderia ter sido mais emblemática para mim.
Você disse: eis a Paulista! E foi me guiando pelas calçadas para não esbarrar em ninguém. Esse cuidado sempre me comoveu durante nossos passeios pelas ruas do seu lugar. Lembro-me do moço vendendo cds… o outro, com camisetas nas mãos, a mulher com brincos grandes e roupas coloridas – você sendo minha guardiã para que não me barrassem – e uma figura tridimensional vindo em nossa frente.
Essa sua frase me fez lembrar dele. Juro que por muito tempo fiquei com aquele ser na minha cabeça. Tão branco que parecia ser transparente e pensei que ele poderia ter vindo de outro planeta – falávamos da mesma pessoa, amore? – e sempre que me lembro da Paulista, ele vem em minha memória. Lembro-me que você falava sobre um edifício e explicava alguma coisa sobre o grafite estampado nele… mas, eu fiquei impactada com ele vindo em nossa direção.
Nossos olhos se encontraram… e eu vi gentileza dentro deles. Lembro-me da essência ou aroma que emanava dele… Cruzou por nós e se foi como se fosse um sonho. Com sua roupa branco metálica como se fosse de outro mundo e como se adivinhasse meus pensamentos você disse que a Paulista vagueia em universos paralelos. Nunca falamos sobre isso, mas é uma memória que me conduz ao meu primeiro dia com você.
Isso acontece muito entre a gente… as suas memórias sempre se intercalam nas minhas. E coisas que vivi atiçam as lembranças que tuo cuore carregam. Quantas vezes já me emocionei com o carrilhão do tuo nonno? Já te contei que eles me fazem lembrar do relógio Orient que meu pai por tantos anos carregou no braço direto?

E o dente de leão que a gente sopra espalhando os desejos ao vento? Em sua língua materna, se chama soffione… Achei tão lindo que repeti a palavra tantas vezes que fiquei em dúvida se tatuava a flor ou a palavra em mim. Foi como se eu tivesse ouvido a palavra dita por você em áudio em uma manhã de segunda.
É engraçado escrever no quarto. Geralmente, vou ao quintal para captar essências do que quero escrever. Mas, de repente, lembrei-me da última vez que nos vimos. Você costurava livros, a gérbera vibrava na janela do seu quarto e eu vagava nos mundos que nos ligou. Nunca fui tão grata ao universo como aquele dia.
Tocava Try na sua playlist e havia janelas abertas na quadra vizinha. A gente ria de coisas aleatórias… o café servido pelo Marco, a Jane dog aos seus pés e eu guardei essa imagem na memória para lembrar em dia como hoje até chegar à próxima vez para criarmos mais lembranças desses mundos nossos tão diferentes e tão iguais.
Bacio
Mariana Gouveia
Missivas de Primavera
Estão junto comigo nesse projeto
Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Roseli Pedroso e Suzana Martins
Parece que este tema foi criado para definir a nossa Lunna, não, Mariana? Ser de dois mundos, ela encontrou nesta latitude pessoas que a põe como brasiliana, para a nossa sorte.
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eu diria que tem a assinatura dela, moço!
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A resposta virá, você sabe o formato. rs
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eu acho que sei… rs
carteeeeiiiroooooooooooo!
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