As lembranças me levam para minha infância.
A algazarra dos meus irmãos em suas brincadeiras de meninos. Uma irmã, na janela – seu lugar favorito – e a outra me desafiando a recitar poesia pegando as palavras que ela dizia.
Naquele tempo a casa era cheia. Os sete filhos de seu Laurindo e Dona Ercina mal cabiam no banco comprido que contornava a mesa.
Cada um tinha seu lugar preferido naquela casa, mas acabávamos sempre disputando o lugar mais perto da mãe. O caldeirão da sopa no centro da mesa e os pães ao lado.
Até hoje, o cheiro daqueles momentos se faz presente.
A mais velha casou-se primeiro. Foi a primeira vez que minha mãe sentiu a sensação do ninho vazio. Um lugar no banco ficou vago. Mas, em cada refeição era como se ela estivesse ali. Com o prato estendido, sendo servida primeiro por ser a mais velha. Nos primeiros dias a poesia se calou em mim. Quando a outra se casou o vazio ampliou-se nos quartos. O meu irmão foi trabalhar fora e a gente ficou parecendo um colar que perdeu as contas. Os suspiros eram ouvidos diariamente entre as falas de minha mãe.
Minhas irmãs vinham em datas especiais. Natal, Páscoa e aniversários da mãe e do pai – mas já não era a mesma coisa.
Tudo ficou ainda mais estranho quando minha mãe foi morar com minha irmã mais velha para tratar de um problema de saúde.
O vácuo ficou ainda maior… a casa cheia e barulhenta ficou silenciosa. Nem o rádio de pilha no programa favorito mudava a sensação de orfandade que sentir. Eu, meu pai e os meus três irmãos mais novos nos fortalecíamos nas lembranças e nas brincadeiras em que sempre faltava um.
O tempo tratou de levar a gente para longe um do outro. E com a morte de minha mãe ficou muito difícil reunir todos.
Mesmo nas datas especiais a rotina de cada um interferia no encontro. Mas, os nossos corações estão ligados e quando acontece algum encontro – mesmo que falte um ou dois -, a memória de tudo que vivemos é refletida nas histórias que replicamos… e o riso ecoa de novo.
Os cheiros, a comida, a sensação da casa cheia regressam e atingem em cheio o coração e a alma.
Ao me sentar aqui para escrever… rememoro tudo. A sensação de aconchego eco na pele e eu me sinto cheia, o corpo convertido naquela casa. As histórias percorrem cada canto do meu corpo-memória e eu ouço a voz do pai e vejo os ingredientes da receita favorita do domingo da mãe sendo misturados. Tudo isso me faz uma casa habitada de saudades.
Mariana Gouveia
Agosto é o mês de casa cheia e de Beda
Participam junto comigo:
Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Darlene Regina – Mãe Literatura –
Suzana Martins – Roseli Pedroso
Texto publicado no Projeto Coletivo Casa Cheia
Scenarium Livros Artesanais
Ah menina Mariana, agora fiquei aqui a suspirar saudades.
Lembrei dos encontros na casa das minhas avós. A casa estava sempre cheia de gente, alegrias, sorrisos, comida e muitas histórias.
A casa da minha avó materna, os encontros aconteciam aos finais de semana. Sábado a tarde era o dia de reunir todos: tios, tias, primos, primas, amigos e quem chegasse por lá. Essa reunião era possível porque morávamos todos na mesma cidade e, como a semana era correria para todos, sábado era o dia do almoço em família.
E a casa da minha avó paterna era o meu recanto de férias. As férias de junho com as aventuras juninas e as festas do final de ano. Natal e reveillon eram sempre especiais. Eu esperava ansiosa pelas férias só para viajar pra casa da minha avó. Reencontrava os tios, as tias, primos e primas.
Hoje não tenho mais as duas, porém as lembranças e fotografias sempre contam as melhores histórias.
Ah, saudade!!! ❤
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As lembranças trazem sempre esse aconchego no coração. A saudade dos momentos felizes fazem isso com a gente. grata pelo seu olhar carinhoso comigo sempre ❤
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Ah, eu me lembrei de um poema Maravilhoso de José Luis Peixotto que li na semana passada para as meninas do clue de escrita. Eu devolvi o livro a prateleira, mas vou buscá-lo pela manhã (de sábado) e irei enviá-lo para o seu olhar.
bacio
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o poema é lindo, bambina! Grazie!
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Nossa que lindo!
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Muito obrigada, Carla! Abraço
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