Quando ando pelas ruas da minha cidade, ou até mesmo dentro dos muros do meu quintal, percebo a diferença que já é tão notória por aqui. Cada vez mais percebo a natureza “invadindo” os espaços da cidade, já que nós roubamos o espaço dela.
O que aos meus olhos parecia tão rural, hoje atravessa as avenidas, invade os canteiros e se tornou tão presente nas ruas que é como se estivessem sempre ali.
Os ipês, de variadas cores, que antes eu só via no cerrado, hoje compete com edifícios e a urbanidade toda. E embora grande parte deles tenham sido retirados em nome de uma “revitalização” em nome da Copa de 2014 – Sim, AINDA temos obras paradas em nome da Copa que aconteceu aqui – alguns ainda encantam com suas floradas.
O jacarandá do cerrado enfeita a paisagem de uma grande avenida e além dele, várias outras espécies do cerrado e do Pantanal transforma a cidade. É a natureza buscando abrigo na cidade como forma de proteção? Ou é apenas o reflexo da mão do homem trazendo a natureza para mais perto dele? Não é a função desse post discutir o meio ambiente e suas relações com a ação do homem. Posso até fazer isso como um grito de alerta, já que hoje seria votada, pela Assembleia Estadual de Mato Grosso – foi adiada para a semana que vem – o Projeto de Lei 561, que abre brechas para obras de infraestrutura que podem impactar o bioma, sua biodiversidade e as comunidades que nele habitam. A tramitação acelerada do Projeto de Lei não respeitou as regras do regimento, havendo pouca transparência no processo, por exemplo, reuniões a portas fechadas e apenas, com o setor produtivo. Se aprovado, o impacto será devastador para o Pantanal.

Mas, confesso que já me assusto ao andar nas imediações de um parque público, dentro de um bairro de condomínios de luxo. Os animais que antes eu só observava na natureza, como capivaras, pássaros silvestres, jacarés e outros animais estão cada vez mais perto de nós… de nossas casas e longe da natureza, além de estarem correndo risco de vida. Ou de morte. Nunca me dei bem com essa frase.
Na semana passada me deparei com um barulho no poste de energia elétrica, bem em frente minha casa com esse pica-pau que tentava furar sem sucesso o ferro que segura a caixa do relógio. Lembrei-me do pica pau do desenho e o que foi mais estranho, é que para ele, parecia normal a humana aqui, com sua câmera a incomodá-lo, procurando uma pose melhor.

E hoje, descobri que tenho novos vizinhos, no mesmo poste em que o pica-pau estava dias atrás. Um casal de joão de barro construiu sua casinha, não lá no galho da paineira, como diz a canção antiga que meu pai ama e sim, logo ali, ao alcance dos olhos. Prefiro acreditar que vieram para perto de mim, ou que sou eu quem atraio essas coisas da natureza. Me assusta o domínio do homem sobre ela. Me assusta a utilização e a transformação dessa natureza. Enquanto o homem vive uma busca incessante de domínio sobre todos os espaços, a natureza luta diariamente para continuar tendo aquilo que lhe sobrou. Mesmo que seja dentro da urbanidade que lhe cabe.
Mariana Gouveia
Projeto Fotográfico 6 on 6
Participam desse projeto:
Lunna Guedes – Obdúlio Nunes Ortega – Roseli Pedroso – Suzana Martins
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Thanks!
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Suas fotos são de tirar o fôlego Mariana. Lindas demais e o ser humano, acabando com tudo. Aff!!
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Ah, Roseli! perdi-me no tempo e só hoje respondo-te. Já é julho e tudo piorou. A lei foi aprovada e a fumaça já estabelece rotas por aqui. abraço
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Tenho acompanhado pelos noticiários. Que tristeza ver nossa natureza agonizando. Força e coragem para todo o povo de sua região. Abraço
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Ah menina Mariana, a sua natureza é um deleite! Que encanto!
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A gente ainda luta para que essa natureza sobreviva, menina nuvem… abraço carinhoso
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Que luta insana, Mariana! O risco é de morte. Risco de (bem) viver seria até desejável, mas a ganância humana ainda nos levará à ruína.
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e está cada vez pior, meu amigo! Abraço
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Quando se mora em São Paulo, a natureza invadir as ruas e as casas não causa estranhamento. Mas, a invasão que vejo por aqui é planejada por gente que jura entender de tudo. Os jardins dos prédios atraem os pássaros porque é que o resta de vida verde. Mas os outros tipos de bichos não ousam encaram o monstro que somos. Mesmo com a pandemia em que vários seres invadiram cidades, São Paulo só comemorou a volta das capivaras graças a despoluição do Rio Pinheiros, motivo de orgulho para a cidade.
E com a queimada do Pantanal, vários pássaros diferentes apareceram por aqui e, nesse ano, começaram a cantar dentro da madrugada muito antes de agosto. Parece que a natureza determinou que não haverá inverno.
Belo post, cara mia… eu sempre aprecio o efeito dos upês nas ruas e calçadas. Aqui temos cerejeiras Se bem que com o tempo seco do jeito que está, acho que não haverá floração.
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Interessante a narrativa denunciando os efeitos da destruição da ruralidade . Obrigada pela partilha Maria
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eu fico imaginando que, se a natureza, com essas queimadas em meu lugar se reflete ai, a tantos quilômetros de distância, imagine aqui. Nunca houve tanto animal e insetos diferentes em meu lugar. Talvez, isso seja o tal efeito borboleta.
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