“Horas, horas, sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
(…)
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.”
Eugénio de Andrade
Eu esperei muito antes de escrever, mas descobri que só colocando as palavras para fora essa solidão dolorida caiba em algum canto. Já te disse que desde ontem eu estou me sentindo estranha e que mesmo que busque dentro de mim o motivo ele foge como se fosse ágil demais para essa letargia que sinto.
Foram poucas vezes que senti essa imensa vontade de chorar. Você sabe que as emoções, pra mim, sempre vem em camadas e que na maioria das vezes consigo atravessá-las sem maiores danos… mas ainda não vou chorar hoje… O dia afinal, será amanhã… Amanhã vou chorar até que um pássaro me saia da garganta, tal qual o poema do Eugénio… hoje, serei apenas essa vontade desavisada de que posso esperar mais um dia… o dia em que estarei só e ninguém poderá perguntar o motivo.
Por hoje apenas espero a lua caminhar no céu enquanto o cheiro de ervas exalam no quintal e brisa suave invade a noite… Por enquanto, hoje apenas repito seu nome como quem canta uma canção.
Mariana Gouveia
fotografia: Pinterest