“só o verde fala neste tempo de silêncio
somos gastos pelos ruídos do lado de fora das árvores
espera, pensei em folhas
e a primavera explodiu‐me na boca”
Maria Sousa
Sabe, Ana, a vida é feita dessas confirmações rápidas quando o assunto é felicidade. Quando é espera, aí, já demora muito. Já percebeu quanto tempo demora um minuto? É quase uma alquimia essa coisa de tempo… e o silêncio, Ana? Já viu como é difícil essa coisa de silêncio?
Quando não se quer ouvir nada, está lá o silêncio sendo voz silenciosa, ou gritos ensurdecedores na alma.
Vez ou outra é preciso respirar alguns silêncios, Ana… Vamos falar dessa alquimia de silêncio? Amanhece e lá estamos as duas com um oceano imenso no meio em silêncio. Você já sentiu quanto cabe de silêncio nessa imensidão de oceano? E já sentiu também quanto de vento canta em seu mar?
Ah, Ana, a pele é apenas a tradução do sentimento. O arrepio na pele é fase de silêncio, a voz que cala no peito e até mesmo o voo das borboletas brancas são feitas de silêncio e não sei se você sabe, Ana, mas até nossos diálogos são abraçados de silêncio.
O meu rio abraça seu mar em silêncio e dentro dessas vontades somos águas diferentes apenas pela geografia do mundo e suas separações. A vida tem essa blindagem naqueles que se amam. Seria tão bom gritar teu nome para ali, além da janela e teu riso ecoar atrás do muro, tal qual igual minha vizinha quando o gato dela invade – em silêncio – meu quintal e eu chamo por ela…
A gente troca de estações… somos adversas nas luas, nas marés soltas e no vácuo do tempo. Somos adversas nos fusos e no momento que a vida te acorda, o silêncio me faz dormir. A minha madrugada é quase sua manhã e é tão tarde esse tempo para além das tarefas.
Quando estou indo, você já volta… quando volto, você já não está e assim, somos silêncios que respiram uma além do mar e outra, além do rio. E é esse eco que reverbera aqui… um abraço de alma, feito de silêncio.
Beijo meu,
Mariana Gouveia
Carta publicada no Caderno de Notas
Scenarium Livros Artesanais
Participam dessa blogagem coletiva:
Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi – Darlene Regina – Lunna Guedes – Obdulio Ortega – Roseli Pedroso
Silenciei diante de tamanha beleza de texto…
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Ah, querida! Grata tanto!
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Quando garoto, eu adorava ouvir uma música dos Anos 60 chamada “Silence Is Golden” ou, como a minha mãe dizia – o silêncio é de ouro. No seu texto, recebemos dimensões do silêncio que ecoam em nós.
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Ah, vou ouvir amanhã, porque nesse momento, o moço daqui de casa vibra com um jogo de futebol… O silêncio, ultimamente me permeia… mas hoje, o gooooool ecoa aqui.
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