Mariana Gouveia · Scenarium Livros Artesanais

b.e.d.a – A viagem que não acaba nunca

“Antes eu não sabia
porque é que se deve
– dia após dia –
andar sempre em frente
como se diz até 
o corpo aguentar. 
Agora sei. 
Se vieres comigo 
digo-te”. 

José Agustín Goytisolo

Bambina mia,

Espalho na mesa as fotos e lembranças que trouxe das viagens que fiz. Os roteiros e bilhetes – alguns amarelados pelo tempo – outros, tão recentes que ainda tenho na ponta do dedo a textura da presença, do lugar…
Muitas vezes, a viagem foi logo ali, depois da ponte – a bordo da linha 55… mergulhava dentro de outra cidade – e nessa cidade. Na casa de uma pessoa viajava pelo mundo através de suas histórias. Embarcava rumo aos sabores e perfumes de ruas desconhecidas, desenhadas apenas para mim. Era como se tivesse cruzado o oceano e mergulhado nas ruas de Paris. Até que em uma dessas viagens, nos perdemos em um aeroporto qualquer. Foi bom para o aprendizado de alma e de que o caminho se faz caminhando.
Algumas das vivências foram em aldeias indígenas levada pela mão dentro do olho do pajé ou cacique. Encantei-me com as crenças, a cultura e um mundo novo. A natureza fazendo um país no peito. O respeito pelo outro e o ensinamento de que tudo tem uma razão definida e disso não podemos fugir. Haverá sempre um trem chamado destino e que tem passagem certa entre nós. Estaremos prontos para embarcar e a aproveitar a viagem?
Viajei também pelo amor… esqueci as palavras e fiquei com o som das gotas de chuva e dos trovões, que me fizeram chamar por seu nome. Senti o calor dos raios de sol que rasgam intensamente as nuvens e imaginei a pele a sentir o toque.
Abri os braços… abracei o vento… fiz castelos na areia… mergulhei no mar e no campo, senti o cheiro das flores dentro da estação…
Passei noites a espiar a lua e vivi as loucuras da noite. Através das ondas do rádio viajei pelo mundo inteiro. Fui peregrina da fé… adentrei em igrejas e castelos. Sobrevivi aos corredores das dores e saí dali cheia… de poesia.
Viajei até você também… e a bordo da palavra sonho: toquei a realidade. Da sua sacada… eu vi a noite de sua cidade e mergulhei madrugada nas suas calçadas. Senti o frio da garoa e te abracei em sua rua. Ouvi as canções que você cantarolava e com seu menino aspirei o aroma do café servido na xícara que tinha um coração.
Mas há uma viagem que me chama… que me obriga a fazer as malas… e mapas que trago na memória – feito tatuagem. Trago na pele o arder de um sol diferente do meu e o vento me espera para tocar folhas altas. Sou passageira dessa nave e o embarque se aproxima. Em breve parto para essa viagem… a que eu ainda não fiz…

Vamos?

Mariana Gouveia
Carta publicada na Revista Plural Wild Nights – Scenarium Plural Editora
*b.e.d.a — blog every day april — um desafio que surgiu para agitar os dias de abril e agosto nos blogues e comemorar o Blog Day.

8 comentários em “b.e.d.a – A viagem que não acaba nunca

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