
“Antes eu não sabia
porque é que se deve
– dia após dia –
andar sempre em frente
como se diz até
o corpo aguentar.
Agora sei.
Se vieres comigo
digo-te”.
José Agustín Goytisolo
Bambina mia,
Espalho na mesa as fotos e lembranças que trouxe das viagens que fiz. Os roteiros e bilhetes – alguns amarelados pelo tempo – outros, tão recentes que ainda tenho na ponta do dedo a textura da presença, do lugar…
Muitas vezes, a viagem foi logo ali, depois da ponte – a bordo da linha 55… mergulhava dentro de outra cidade – e nessa cidade. Na casa de uma pessoa viajava pelo mundo através de suas histórias. Embarcava rumo aos sabores e perfumes de ruas desconhecidas, desenhadas apenas para mim. Era como se tivesse cruzado o oceano e mergulhado nas ruas de Paris. Até que em uma dessas viagens, nos perdemos em um aeroporto qualquer. Foi bom para o aprendizado de alma e de que o caminho se faz caminhando.
Algumas das vivências foram em aldeias indígenas levada pela mão dentro do olho do pajé ou cacique. Encantei-me com as crenças, a cultura e um mundo novo. A natureza fazendo um país no peito. O respeito pelo outro e o ensinamento de que tudo tem uma razão definida e disso não podemos fugir. Haverá sempre um trem chamado destino e que tem passagem certa entre nós. Estaremos prontos para embarcar e a aproveitar a viagem?
Viajei também pelo amor… esqueci as palavras e fiquei com o som das gotas de chuva e dos trovões, que me fizeram chamar por seu nome. Senti o calor dos raios de sol que rasgam intensamente as nuvens e imaginei a pele a sentir o toque.
Abri os braços… abracei o vento… fiz castelos na areia… mergulhei no mar e no campo, senti o cheiro das flores dentro da estação…
Passei noites a espiar a lua e vivi as loucuras da noite. Através das ondas do rádio viajei pelo mundo inteiro. Fui peregrina da fé… adentrei em igrejas e castelos. Sobrevivi aos corredores das dores e saí dali cheia… de poesia.
Viajei até você também… e a bordo da palavra sonho: toquei a realidade. Da sua sacada… eu vi a noite de sua cidade e mergulhei madrugada nas suas calçadas. Senti o frio da garoa e te abracei em sua rua. Ouvi as canções que você cantarolava e com seu menino aspirei o aroma do café servido na xícara que tinha um coração.
Mas há uma viagem que me chama… que me obriga a fazer as malas… e mapas que trago na memória – feito tatuagem. Trago na pele o arder de um sol diferente do meu e o vento me espera para tocar folhas altas. Sou passageira dessa nave e o embarque se aproxima. Em breve parto para essa viagem… a que eu ainda não fiz…
Vamos?
Mariana Gouveia
Carta publicada na Revista Plural Wild Nights – Scenarium Plural Editora
*b.e.d.a — blog every day april — um desafio que surgiu para agitar os dias de abril e agosto nos blogues e comemorar o Blog Day.

Uau. Senti um misto de suspiro, uma certa alegria conformada, um incômodo feliz. Enfim, viagens.
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As viagens nos levam, moço! Abraço carinhoso
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Eu viajei de novo em tuas palavras e vim ao meu próprio encontro através de você.
Que loucura isso… grazie
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Como diz nosso poeta Joaquim: assim é!
Grazie io!
Bacio
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Leitura deliciosa! Eu que por medrosa demais não sou dada a viagens, senti saudades de poder viajar para qualquer lugar diferente.
Beijos!
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eu adoro viajar! Aqui, viajo muito para Chapada dos Guimarães, um santuário ecológico que nesses tempos sofre com as queimadas.
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